Como surgiram os modernos teclados de telemóveis e calculadoras e porque são diferentes se têm o mesmo propósito.
A sociedade tecnológica em que hoje vivemos assenta em teclados como forma de interação entre máquinas e pessoas. Para além dos
computadores há também telefones, calculadoras ou os caixas-multibanco (
sim, é masculino, porque fazem as tarefas dos caixas bancários que atendem nos bancos. É mais uma das palavras portuguesas masculinas terminadas em "a" como "polícia" ou "poeta"
) . E há dois diferentes tipos de teclado que servem cada uma delas. Ambos estão dispostos numa grelha 3×3+1 com o 0 em baixo mas o teclado para calculadoras começa de baixo para cima e os telefones de cima para baixo.
É estranho que dois teclados que servem para o mesmo efeito e são visualmente semelhantes distribuam os números de forma tão diferente. As razões para isso envolvem a história do seu desenvolvimento, mecanismo de funcionamento e ajuste na determinação da configuração mais adequada para cada um. As calculadoras mecânicas foram as primeiras a ser criadas. No século XVII (
e após tentativas fracassadas suas e de outros inventores
), Blaise Pascal criou e comercializou a sua Pascalina, a primeira máquina de calcular vendida ao público (50 foram vendidas
) e utilizada em ambiente de escritório (o do seu pai
). Mas ainda não havia o teclado que agora se reconhece, que só foi criado nos anos 50 do século XX.
Entretanto, em 1876, Alexander Graham Bell criou uma empresa para vender telefones (
que tinham sido inventados, alguns anos antes, pelo italiano Antonio Meucci, que vendeu a patente a Bell
). O aparelho consistia num microfone para falar, um auscultador para ouvir, uma campainha para avisar de uma nova chamada recebida e um mecanismo de introdução dos números. Durante um século, este mecanismo consistia numa roda com números de 1 a 10 (apesar de aparecer como 0
). Quando se levantava o auscultador, um som contínuo era ouvido, indicando que havia linha. Quando se colocava o dedo num número e se puxava a roda esta, ao voltar à posição inicial, interrompia momentaneamente o sinal por cada número que passava: o 1 interrompia uma vez, o 5 interrompia 5 vezes (uma para o 5, uma para o 4, uma para o 3, uma para o 2 e uma para o 1
), o 0 interrompia o sinal 10 vezes (uma para cada número que atravessava
),… Esta é a razão pela qual o 0 vinha depois do 9.
Mas, na década de 50 o século 20, já havia teclados numéricos e as calculadoras e os telefones apressaram-se a adotar a nova tecnologia. A empresa americana Bell Labs (
a mesma que Bell tinha fundado um século antes
) alterou a tecnologia de introdução dos números de telefone para uso de teclas e fez extensas pesquisas para determinar qual a melhor forma de apresentar os números e a empresa japonesa Canon apresentou, em 1967, a primeira calculadora com o teclado de 10 dígitos que conhecemos hoje. A empresa Sharp comercializou primeiro a sua própria calculadora e décadas de guerras comerciais entre as duas foram desenvolvendo calculadoras cada vez mais fina, poderosas e leves. Pareceu ser lógico aos engenheiros que conceberam o novo teclado colocar os números por ordem numérica, em que quanto mais longe o número fica da mão maior o seu valor.
Entretanto, os Laboratórios Bell decidiram verificar qual a melhor forma de colocar as teclas numéricas no telefone, já que tinham a possibilidade de inovar e encontrar a melhor alternativa. Começaram por colocar os números na mesma posição que ocupavam no mecanismo de rotação anterior. Várias possibilidades foram testadas junto de vários voluntários, tendo sido registado o rapidez de marcação de um número, os erros cometidos, a configuração mais apreciada e a configuração menos apreciada para cada voluntário e para cada modelo. No fim, ficaram com 5 modelos possíveis e os dados que recolheram:
O modelo mais rápido foi o de barra vertical, o com menos erros na marcação e o menos apreciado foi o de barra horizontal, o mais apreciado foi o modelo igual ao de mecanismo de rotação. Com resultados tão extremados, optaram pela grelha 3×3+1 que conhecemos hoje, a opção menos controversa. Presentemente, parece óbvio que essa é a melhor forma de colocar os números no teclado de um telemóvel mas é assim pelo hábito. No início, parecia mais bonito o igual ao anterior mecanismo de rotação. Esta situação faz lembrar a situação com o melhor tamanho para uma folha de papel. Agora o tamanho A4 parece o ideal mas, durante muito tempo, as proporções do retângulo de ouro lideraram as preferências das pessoas, como visto no artigo Razão de Prata.
Os caixas multibanco seguem a mesma distribuição numérica que as calculadoras uma vez que a questão da rapidez de uso não é afetada pela escolha do crescendo numérico e os bancos e os utilizadores estão mais familiarizados com o uso de calculadoras para tratar de questões financeiras. Esta foi a principal razão porque as calculadoras mecânicas foram desenvolvidas e a Máquina de Calcular de Pascal teve o seu primeiro uso no escritório do seu pai para auxiliar nas questões financeiras e de impostos.